Talvez seja a raça zebuina mais antiga do planeta, segundo sugestões da literatura sagrada hinduista. Na rota das migrações humanas que iriam formar o futuro povo ariano e que povoavam o norte da África, temporariamente, estava o bovino ancestral da raça Gir, o qual teria permanecido na região de Kathiavar desde aqueles remotos tempos.
Recentes estudos antropológicos reforçam essa teoria, mostrando que os
povos migravam, a pé, do norte africano para o subcontinente indiano. Aquelas
tribos seguiram viagem, mais tarde, até o interior asiático, fixando uma
civilização na região de Gobi, enquanto o território indiano mergulharia no
esquecimento por mais de 80 mil anos. Nesse período de esquecimento, teria sido
aperfeiçoado o gado Gir, principalmente na região de Gir, famosa pelas
florestas, no Kath lavar, onde abundavam leões e outras feras. O Gir ficou
famoso como 'boi-de-luta" e alguns autores mencionam que os chifres
voltaram-se para baixo e para trás devido as intensas e constantes batalhas na
região.
Mais tarde, por volta de 20.000
a .C. ou, segundo outros autores, por volta de 5.000 a .C., as tribos de
arianos remanescentes no deserto de Gobi, migraram para a India, entrando pelo
estreito de Khebyr, trazendo consigo o gado de giba. Estes povos arianos teriam
trazido apenas o gado branco-cinza do norte da India, não havendo menção sobre
o Gir, ou o Guzerá. Estas duas raças, pelo que tudo indica, já estavam na India
naqueles tempos.
Morfologicamente, sua antiguidade também se manifesta pela conformação
craniana: é a única raça bovina com chifres voltados para baixo e para trás, e
de crânio ultra-convexo, no mundo. Uma vez que ainda existem bubalinos e ovinos
de chifres voltados para baixo e para trás - no próprio Kathiavar - conclui-se
que o Gir é o único bovino que deve ter tido um ancestral comum com essas
subespécies, há milhões de anos atrás.
Na Índia, existem rebanhos com história de 300 anos, ou mais, tendo sido uma
raça multo utilizada para melhorar as demais em termos de produtividade
leiteira e trabalho pesado. O Gir, modernamente, goza de grande popularidade na
Índia, principalmente pela sua notável mansidão e aptidão leiteira (foto). E comum encontrar vacas Gir
produzindo leite nos templos e nos centros de pesquisas, bem como nos asilos e
organismos sociais. E uma raça muito estudada, havendo relativa fartura de
dados técnicos sobre famílias leiteiras, na Índia.
Exemplar Gir na Índia, notória aptidão leiteira
A raça chegou ao Brasil, desde 1911, mas foi no final da primeira Guerra Mundial que, de fato, tornou-se figura comum. Ao chegar ao mesmo recebendo a alcunha de "boi de pagode", a raca Gir por um formidável progresso, a de se perceber, hoje, sua influência na grande maioria das propriedades pecuárias do país.
Inicialmente, o sucesso do Gir ficou patenteado pela consolidação da raça
Indubrasil. Assim meados da década de 1930, pecuaristas sentiram a necessidade
de tornar as raças puras indianas e o Gir iniciou um "período de
ouro" (foto), com animais
atingindo valores astronômicos.
Exposição durante o
“período de ouro”
O Herd-Book foi implantado em 1938 no Brasil, e os registros genealógicos
demonstram que o Gir era a principal entre todas as raças as, mantendo essa
posição privilegiada até 1967. Era a "raça dos cafezais onde produzia
leite e carne e ajudava na tração. Também fora dos cafezais o Gir foi destaque
durante décadas seguidas, garantindo o sucesso da pecuária de Goiás e a consolidação da
pecuária do Pantanal Matogrossense.
Durante a Segunda Guerra mundial, os mestiços de Gir chegaram até a
receber um preço especial, pela conformação frigorífica e pelo rendimento de
carcaça, em Barretos (SP). Nessa época o Gir espalhou-se, de norte a sul, permitindo
a ocupação de territórios nunca antes explorados.
Na década de 1950, os altos preços já desestimulavam o ingresso de
selecionadores, bem como o seu para as longínquas regiões que exigiam, antes de
tudo, um gado barato. Ao mesmo tempo, os pequenos criadores dedicados á
exploração leiteira passaram a utilizar, maciçamente, o Gir para melhorar suas
vacas mestiças e, dispensavam os animais de elite. Então, em meados da década
de 1960 para atender o enorme mercado propriedades leiteiras, diversos selecionadores
passaram a segregar as fêmeas de Gir de aptidão leiteira. Dividiu-se assim o
horizonte da raça em dois: linhagens para leite e linhagem para corte – ao
mesmo tempo em que os selecionadores tradicionais atingiam o ponto alto no
aperfeiçoamento racial.
As importações do inicio da década de 1960 (foto) permitiram consolidar a beleza racial e introduziu novas
linhagens leiteiras, embora com menor influência na seleção para carne.
Enquanto isso, o Nelore, com essas importações, disparou na preferência dos
selecionadores de gado de corte. Assim, abruptamente, o Gir viu-se numa
encruzilhada, sem um melhoramento acelerado para corte, levando outra boa parte
dos criadores a se dedicar apenas ao atendimento dos pequenos produtores de
leite.
Laxmi, Kassudi II,
Geeta, Rupia, Sakina (esq. p/ direita)
Devido ao acelerado melhoramento na produtividade leiteira, rapidamente,
o sangue Gir chegou a 82,4% das propriedades brasileiras que, de alguma forma,
exploravam o leite. Perdeu o trono na pecuária de corte mas ganhou um novo
trono, nas propriedades leiteiras.
O Gir foi a raça mais analisada do Brasil, tendo vivido a turbulência da
década de 1920, depois o período final da "época dos coronéis",
depois a expansão durante a Segunda Guerra Mundial e, finalmente, a mudança de
rumo a partir da década de 1960. Por conta de tantas modificações, a raça
formou "escolas" distintas, criou e introduziu modismos e ganhou
diferentes experiências. Cada modalidade tinha suas características, suas
exigências e sua permissividade, cada qual com seu rol de adeptos.
Na década de 1980 firmaram-se apenas duas orientações: leite e padrão,
também na vertente mocho; sendo que a seleção para carne foi drasticamente
reduzida, mas volta agora após a virada do século a ser novamente selecionada por
um grupo de criadores.
A aptidão leiteira é hoje a mais forte das qualidades do Gir, e é
vastamente selecionada pelo país. Os animais testados pelas provas zootécnicas
(teste de progênie e sumário de touros para os machos, e controle leiteiro para
fêmeas) são mais valorizados, sendo comercializados por valores respeitáveis,
prova de que o mercado absorveu a necessidade do melhoramento genético,
essencial na pecuária atual.
Padrão racial
Descrição
– A coloração popular é a de fundo claro (branco sujo) com pintas avermelhadas
(chitas), ou de fundo vermelho com pintas chitas, variando por vários tons
entre amarelo e vermelho-escuro. Na índia existe a coloração negra, mas é
exceção, tanto quanto a coloração branca total. As orelhas são pendulosas,
iguais a uma folha seca, formando uma dobra característica na extremidade,
voltando para dentro (gavião). Não se admite marcas de despigmentação nas
partes que recebem sol, tão pouco a coloração negra. Os chifres são voltados
para fora, para baixo e para trás. O perfil é ultra-convexo. Lateralmente os
olhos são alinhados com a base dos chifres, característica essa considerada
fundamental na Índia. A giba (cupim) é bem saliente nas fêmeas e avantajadas
nos machos. O passo é longo, a marca do pé sempre atingindo a marca deixada
pela mão, podendo até ultrapassá-la. (Os cruzamentos – na pecuária tropical,
Editora Agropecuária Tropical Ltda, Uberaba-MG, 1999, Rinaldo dos Santos).
Gir Mocho – Atendendo o mercado foi produzido o Gir mocho, na década de 1940, com influência original do gado Mocho nacional e do Red Poll. Esta variedade continua em expansão, apresentando as mesmas características e funções que o Gir tradicional. O Registro Genealógico do Gir Mocho teve início em 1976. Os primeiros animais registrados foram: o touro Heleno e a matriz Rara, ambos de propriedade de João Inácio de Souza Filho, em Goiás.
Gir Mocho – Atendendo o mercado foi produzido o Gir mocho, na década de 1940, com influência original do gado Mocho nacional e do Red Poll. Esta variedade continua em expansão, apresentando as mesmas características e funções que o Gir tradicional. O Registro Genealógico do Gir Mocho teve início em 1976. Os primeiros animais registrados foram: o touro Heleno e a matriz Rara, ambos de propriedade de João Inácio de Souza Filho, em Goiás.
Leite – O Controle Leiteiro foi instituído em 1964 no Brasil, mas na Índia existem Controles Leiteiros desde o início do século XX. A produção média do rebanho nacional tem evoluído a cada ano de forma respeitável, as recordistas de produção ultrapassam 18.000kg em um ano de lactação. Os controles leiteiros oficiais são de responsabilidade da ABCZ, e a mesma utiliza estes dados na elaboração do Sumário Nacional de Touros, o qual tem a cada ano uma versão atualizada, indicando os touros de maior PTA, ou seja, que têm maior capacidade de transmitir o potencial leiteiro à sua progênie. Em concursos leiteiros os recordes já ultrapassam média de 50 kg/dia.
Carne - As fêmeas pesam entre 400 – 650 kg, com recorde de 815 kg; os machos pesam entre 750 – 950 kg, com recorde acima de 1.100 kg. A carne de primeira é saborosa, oriunda de uma carcaça com rendimento entre 58 – 67%. O Gir inscreveu 58.094 animais no Controle de Desenvolvimento Ponderal (CDP), ou 5,69% do total desta prova até 1995. O Gir Mocho inscreveu 13.171 ou 1,29% do total da prova. Ficou evidente em 269.533 pesagens que o Gir e o Gir Mocho macho pesam, aos 205 dias, 133 kg e as fêmeas 125 kg. Aos 365 dias, o macho pesa 183 kg e a fêmea 173. Aos 550 dias o macho pesa 238 kg e a fêmea 221. Sempre em regime de campo. Em regime confinado, o Gir ganhou 53% a mais.

Cruzamentos – O mais importante objetivando a produção leiteira é com a raça Holandesa. Esse cruzamento deu origem a uma raça sintética, a Girolando, cruzamento Gir X Holandês saiba mais sobre o Girolando clicando aqui. Também foi utilizado na criação das raças voltadas para a funcionalidade frigorífica como a Indubrasil e Brahman.